Dirigiu-se ao primeiro:
- Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?
Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:
- Não posso menino! É impossível para mim.
O amor recorreu, então ao segundo barqueiro, que se divertia em atirar pedrinhas ao seio tumultuoso da correnteza.
- Não, não posso. - respondeu secamente
O terceiro e ultimo barqueiro, que parecia o mais velho, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se, tranquilo, e, estendendo-lhe bondosamente a larga mão forte, disse-lhe:
- Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.
Em meio da travessia, notando o Amor a segurança com que o velho barqueiro navegava, perguntou-lhe:
- Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender meu pedido?
- Menino - respondeu, paciente, o bom remador - , o primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo. Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor.
- E tu, quem és afinal?
- Eu sou o Tempo, meu filho - atalhou o velho barqueiro. - Aprende para sempre a generosa verdade. Só o Tempo é que faz passar o Amor.
E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno.
Sofrimento, Desprezo... Que importa tudo isso ao coração apaixonado? O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor.
Os melhores contos - Malba Tahan
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